23.2.07

O Ponto Indivisível

A arte é uma representação nesse sentido de imitação. Que é este, parece o primeiro sinal de inteligência humana. A imitação é a mãe surpresa, e esta, a do riso. O trabalho surge como uma necessidade exterior porque a fome é um imperativo, e a arte aparece como uma necessidade interior, quer ligada ao sexo e aos fundamentos dessa actividade, e deste modo à sua componente erótica , traduzível também no misticismo, na assunção dos tabus, na castração.
A outra questão que se pode pôr é a de saber se o homem mudou estruturalmente com o meio, isto é com a tecnologia.
Sem ele permanece ou não o mesmo de um ponto de vista espiritual. Diz-se com frequência em relação às atrocidades comtemporâneas, que sempre houve, só que não eram tão divulgadas.
A continuação desta pergunta seria a de tentar saber se a crueldade é, não apenas natural, como humanamente inextinguível. Se é parte intrínseca da natureza do homem.(...)
Se a electrónica, a informática e as comunicações modificaram o meio, poderão influenciar o comportamento humano, mas não alteraram a sua natureza. Tudo parece indicar que o homem continuará a sentir as suas pulsões mortíferas, a sua estuância libidinal e o mesmo prazer em acalmar a fome. Terá igualmente necessidade de se representar a si e à vida ou ao mundo que o cerca. E essa representação, que não é filha duma necessidade exterior, como a de se tapar quando tem frio, mas interior PORQUE A VIDA NÃO LHE CHEGA, PORQUE ESTÁ CONDENADO À MORTE, TEM CONSCIÊNCIA DISSO- o facto de a imortalidade nunca ter sido confirmada continua a não convencer toda a gente- essa representação parece afinal ter como motor o desejo de repetir a vida. (...)
Jorge Guimarães, O Ponto Indivisível
Contra aquele arrebatamento que se vai acumulando em nós apresso-me e demoro-me muitas vezes neste compêndio. Represento-me muitas vezes na música que gosto, nos filmes que amo e nas palavras, aquelas que me obrigam tantas vezes a olhar para dentro de mim, aquelas que me redesenham em temporalidades que não sei definir. As reticências contam-me assim, às vezes demasiadamente.
O meu manual interior é muitas vezes espreitado por vocês, e com vocês conserto-me e desorganizo-me, divirto-me e refugio-me. Aqui as imagens válidas são as palavras que muitos vão deixando, palavras sem rosto, sem idade, são as imagens que se acumulam verdadeiramente dentro de mim. Elas remetem-me para a ideia contínua de que as interpretações a que quem escreve está sujeito, é feito de reinterpretações igualmente valiosas, permutas emotivas que permanecem sempre comigo, um ponto indivisível.

Bárbara

15 comments:

helvetia said...

ok... não li tudo... confesso... fixei uma coisa... o ponto invisível... O G ponto? Aquele que eles nunca (nunca digas nunca...) raramente conseguem encontrar?

Bárbara said...

Helvita:

Risos, muitos. O Ponto Indivisível, não o ponto invisível que eles nunca conseguem encontrar (mais risos), este é um livro que fala sobre as representações que o homem tem necessidade de criar ao longo da sua vida. Da arte e da relação que temos com ela, da forma como ao longo da vida precisamos dela ou a fazemos todos os dias.
O teu comment está muito engraçado, "que eles nunca( nunca digas nunca) raramente conseguem encontar?"

Bárbara said...

Helvita:

Um grande beijinho.

Francesca/FF:L said...

mh,agora o unico ponto indivisivel que posso ver e`o cantor do THE KILLERS no concerto do vivo na Tv com a primeira cerveja do ano(GROLSCH !!!JAAAAA!)
Por isso SKÅLL!og punktum for alle

Amanha estou na suecia!Finalmente FERIASSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

K&K/BJ&Abr/H&K

Jorge P. Guedes said...

Gostei francamente da tua reflexão, escrita provocantemente a vermelho.
Diria que, através delas, obtenho a representação de uma jovem inteligente e arrebatadoramente feminina.

um bjnh.

Francesca/FF:L said...

Palavras nao podem rapresentar a inteligencia de uma pessoa. as palavras vem da nossa reflexao e sao um referimento so as nossas emocoes e sentimentos.
A `inteligencia `nao vem da nossa capacidade leteraria de escrever mas das o que nos fizemos e das nossas accoes e capacidade ( que nao sao leterarias...)

HA DET GODT

Bárbara said...
This comment has been removed by the author.
Bárbara said...

Francesca:
Sim, claro que a inteligência não está somente ligada às palavras, alguns de nós usa a escrita para se exprimir, outros a música, a pintura, outros mesmos fazem outras coisas que não estejam necessariamente de acordo com estas formas de expressão. Na minha opinião todos elas são valiosas. Contudo, não acho também que a inteligência esteja somente ligada às nossas acções, inteligência abarca muito mais do que tudo o que eu referi e aquilo que tu mesmo referiste, competências sem dúvida mas também interiorização.
Sabes, eu acho o humor uma forma de inteligência fabulosa...por exemplo!
Beijinho!

Bárbara said...

J.P.G:

Muito obrigado pela simpatia.Ainda bem, que gostaste da pequena reflexão.

Sílvia said...

Como te percebo...=)

Bárbara said...

Francesca:

Boas Férias!!
Beijo Grande

Bárbara said...

Sílvia:

Entendes, não entendes????

Beijinho

Sílvia said...

Nem eu me conseguiria explicar tão bem como tu fizeste nesta reflexão...São exercícios quase terapeuticos de nós que decidimos partilhar.

'tou contigo e não te largo, linda!!!!=)[dialecto vimaranense :p]

bjo linda

Bárbara said...

Sívia:

Hui!! Vocês falam assim por aí??? Que bom!!! Risos

Sílvia said...

E esta é uma das muitas expressões =)

Deliciosas, se exagerarmos a pronúncia =)

bjo grande