30.9.06

Incursão ao interior




Tumultuosa a distância que vai delineando as nossas desculpas. Esgotam-se as sínteses e as procuras de uma leveza para as constantes despedidas. Apertam-se mãos, coram-se corações, encenam-se sorrisos, beijam-se promessas que estão difíceis de serem cumpridas, desnorteiam-se desejos precipitados, velam-se sonos como a única realidade.
Oiço as tuas palavras sem a certeza daquilo que me querem dizer, concentro-me nos sinais e esses dizem-me para não desistir porque isso é batota. Não vou e procuro-te abranger.
Confesso-me de forma embaraçada em resolutas contradições que me pedem para te amar, abraço o teu cheiro e desamparo e alcanço a tua fragilidade que se aproveita de mim. Desconcerto-me com a música que ouvimos e decifro os teus códigos, mas nunca entendo os meus.

Bárbara

29.9.06

Patti Smith



Patti Smith cover of Nina Simone's song:"Don´t smoke in bed".

28.9.06

Vicente Amigo




Teatro Municipal de Faro, 27 de Outubro
Centro Cultural de Belém, 28 de Outubro
Centro Cultural Vila Flor Guimarães, 29 de Outubro (eu vou:)!

Reencontros sonoros de momentos já mais esquecidos.

23.9.06

Guerrilla Girls


Poster:Guerrilla Girls, Don't Stereotype Me!, 2003

Esconderijo II


Pintura: Salvador Dalí,Muchacha en La Ventana,1925

Desce a rua que fez as crónicas da sua infância em direcção ao mar.
Sentada na areia, apetece-lhe fazer coisas, não tem sucesso. Tenta salvar a sua tarde abrindo "Orlando", mas logo de seguida comprime Virginia Wolff aborrecida. Inquieta-se pensando que daqui a nada já não estará sozinha.
-Quero só a companhia do mar e da minha bicicleta.
Esconde-se de entendimentos que a levam onde não quer ir. Não quer ajustar contas consigo, não tem forças para isso.
Adormece envolta de um sono sensível que o mar lhe oferece e sonha com os segredos do vento que lhe avisam que se faz tarde....

Bárbara

22.9.06

Elif Shafak

E pensar que a romancista poderia ter sido condenada a três anos de prisão por ofensa à identidade turca (artigo 301 do código penal turco) devido ao seu último livro. Parece que a vontade de uma democratização com este tipo de julgamentos está longe de ser conseguida. O que dizer disto...não se entende como é que a história de um país pode ainda incomodar tantos e como a liberdade de outros é posta em causa por isso.

9.9.06

AUSÊNCIA


Pintura:Gauguin,Otahi(Sozinha),1893

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desperados
Para que eu possa levar um gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.

Eu deixarei...tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serena.

Vinicius de Moraes (Pela companhia quer nas leituras mais solitárias dos seus poemas quer com as suas canções mais quentes no colo de alguém...)

A IMIGRAÇÃO PORTUGUESA em questão


A Fundação Calouste Gulbenkian comemora o seu cinquentenário aniversário e para grande e boa surpresa com um dos temas da actualidade que merecem mais discussão.
Depois de ter lido o programa completo, fiquei muito entusiasmada, não só pelo número de debates ligados à Imigração Portuguesa que vão ser realizados, mas também pela tão diversa agenda cultural que nos apresenta(cinema, exposições, concertos e teatro). A programação começou este ano e só acabará em Abril do próximo ano.
Eu vou sempre que conseguir e espero ver alguns de vocês lá.

“As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes, os homens não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu e quando nos metemos na terra é para apodrecer. A seiva do solo natural não nos sobe pelos pés em direcção à cabeça, os pés só nos servem para andar. Para nós só as estradas contam. São elas que nos guiam - da pobreza à riqueza ou a outras pobrezas, da servidão à liberdade ou à morte violenta. Elas fazem-nos promessas, levam-nos, empurram-nos e depois abandonam-nos. E então morremos, tal como nascemos, à beira de uma estrada que não escolhemos.”
Origens de Amin Maalouf

7.9.06

Angel-A


Realização: Luc Besson,2005

Uma linda fábula romântica...

Esconderijo I


Fotografia: Steve Landis,Shoes, Jardin du Luxembourg, Paris 1986



Falaram de amor a noite toda e mesmo assim ficou com medo que o seu esconderijo fosse descoberto. Já não saberia para onde escapar. Nunca mais poderia brincar às escondidas. Na inquietude que se sente quando estamos prestes a ser achados, visitou o seu recanto mais uma vez.
- Não abras essa porta! Empenha-se na convicção, mas esquece-se de proteger o olhar.
Conhecido o seu segredo, deitou-se imóvel à espera que ele a voltasse a abraçar.

Bárbara

3.9.06

Caixa de música



Pintura:Karin Monberg.Bailarinas.2005

Eu sou a bailarina de uma caixa de música muito antiga. Tão antiga que fiquei esquecida na montra de uma loja que nunca mais abriu.
Aquilo que me suporta é uma base feita de espelho, onde encontro todos os dias reflexos de mim própria que o pó se vai encarregando de apagar. A minha imagem, essa contemplo-a afectuosamente. Sou colorida, mas já fui mais! Ainda consigo me lembrar, das minhas sabrinas brilhantes, quando entre gargalhadas abertas alguém cuidava de mim. Sim... eu só uso sabrinas, e até já dancei muito com elas quando a música vinda da minha caixa cheirava a especiarias.
O meu relógio parou! E agora passo os dias a contar histórias para mim mesma. Daquelas que fingem a realidade. Eu e o meu silêncio cúmplice já não ficamos embaraçados, agora temos estas histórias. Nem vivemos sozinhos, nem acompanhados...

Bárbara

Strings


REALIZAÇÃO:Anders Rønnow Klarlund.
NACIONALIDADE: Dinamarca, Suécia, Noruega,Reino Unido, 2004.


O filme não é novo, mas é absolutamente original.
As marionetas e os seus fios funcionam como verdadeiras metáforas às nossas vidas.Os fios unem-se, rompem-se, cruzam-se...para quem ainda não viu fica a sugestão.

2.9.06

O Corpo das Mulheres


Barbara Kruger, Untitled (Your body is a battleground), 1989

"O Corpo da Mulher tem muitas funções. Já foi usado como batente de porta, saca-rolhas, como relógio com barriga a fazer tiquetaque, como uma coisa que serve para pendurar o abatjour, como quebra-nozes, basta apertar com força as pernas de metal e eis que salta cá para fora a sua noz. Segura em tochas, ergue vitoriosas coroas de louros, crescem-lhe asas de cobre e levanta aos céus anéis de estrelas de néon; construções inteiras repousam sobre a sua cabeça de mármore.
Vende carros, cerveja, loção de barbear, cigarros, bebidas alcoólicas; vende dietas e diamantes e desejo em garrafinhas minúsculas de cristal(...).
Não se limita a vender, è vendido. O dinheiro escorre para este e aquele país, voa para cá, quase que se arrasta, carrada após carrada, seduzido por aquelas pernas sem pelos, pré-adolescentes. Ouve lá, queres ou não diminuir a dívida externa? Não és patriota? Assim é que é.
Linda menina.
Ela é uma dádiva da natureza, reciclável, felizmente, porque são umas coisas que se deterioram tão rapidamente. Já não as fazem como dantes. Material de segunda."

Margaret Atwood,O corpo das mulheres,trad.Maria Helena Dias Loureiro

1.9.06

No esquecimento....

Fico confusa com facilidade perante aquilo que quero ou não partilhar, ficando somente a certeza de o querer fazer...No esquecimento ficam muitas vezes aquelas que deveriam ser as memórias: misturas cheias de musicalidade, cores berrantes, velocidades alucinantes, sabores doces e picantes, encruzilhadas apaixonantes... de alguma coisa esquecida!