28.4.07

Mesa de Cabeceira III

Não vou descrevê-la em pormenor, mas a verdade é que, quando me vi ao espelho da casa de banho ( se bem se lembram, acabara de atirar pelo ar o do quarto), tive a impressão de que, se não me refreasse, ainda acabaria por passar um mau bocado. Apaixonei-me por mim-assim mesmo, meninos, haviam de ver aquela garota que olhava para mim pelos meus olhos...por toda a parte onde havia que olhar-anca, peito- (que valia a pena , porque a minha mãe não compra fancaria) -e uma maneira de me mexer que era de pôr doidos todos os duros de Bowery. (...)

"Elas não percebem nada", Boris Vian sob o pseudónimo de Vernon Sullivan

A ausência do Jazz de Vian simplifica a intensidade daquilo que seria excessivo para um leitura como esta.
Bárbara

2 comments:

Anonymous said...

Tens de me explicar essa da ausência de jazz em Vian. Não me parece, apesar do swing ter de ser treinado ao ouvido, pela dureza com que os sons se apresentam. Para mim, a sua ironia ou humor negro, ou mesmo a crueza de determinadas afirmações têm muito de jazz, para o sopro de um trompetista solitário, o solo desesperado de grito de um percussionista, o gozo com as escalas da vida de um qualquer interprete de pauta, a melodiosa forma de cantar as tristezas de uma Bess...

Bárbara said...

Gigas, acho que estamos de acordo, quando me referia à ausência do Jazz em Vian não foi um forma de qualificar a sua escrita, estava mesmo a falar da música que ele mesmo fez (não me expliquei bem), queria dizer que ler Vian e ouvir o Jazz de Vian ao mesmo tempo seria excessivo, precisamente porque encontro esse Jazz na sua escrita( interessante dizeres isso).
Quanto à crueza da sua escrita e o seu humor negro, meu deus tão negro apimentado com requinte de malvadez é aquilo que mais gosto nele.