12.6.07

Mesa de Cabeceira IV

(...) Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. Deixa esfumar-se no indistinto o mundo que te rodeia. A porta é melhor fechá-la; lá dentro a televisão está sempre acesa. Diz aos outros: "Não, não quero ver televisão!" Levanta a voz, senão não te ouvem: " Estou a ler!" Não quero que me incomodem!". Não devem ter-te ouvido, com aquele barulho todo; fala mais alto, grita: " Estou a começar a ler o novo romance de Italo Calvino!" Ou se não quiseres não digas nada; esperemos que te deixem em paz. (...)
Se numa noite de Inverno um viajante
O romance começa numa estação ferroviária, ronca uma locomotiva, um arfar de êmbolo tapa a abertura do capítulo, uma nuvem de fumo esconde parte do primeiro parágrafo.(...)
Debruçando-se da escarpada falésia
Há dias em que tudo o que vejo me parece pleno de significados: mensagens que me seria difícil comunicar a outros, definir, traduzir por palavras, mas que precisamente por isso se me apresentam como decisivas. São anúncios de presságios que me dizem respeito a mim mesmo e ao mundo ao mesmo tempo: e de mim, não os acontecimentos exteriores da existência mas o que acontece cá dentro, no fundo; e do mundo não um facto singular qualquer mas o modo de ser geral de tudo. Compreendem pois a minha dificuldade em falar disto, a não ser por alusões.
" Se numa noite de Inverno um viajante" Italo Calvino

1 comment:

Jorge P. Guedes said...

Para que a continuidade da vida se sobreponha à morte inevitável, Italo Calvino inicia uma série de histórias inacabadas, não morrendo nenhuma delas com a palavra "fim".
Um dos maiores escritores italianos do séc.XX, foi um lutador contra as forças de Mussolini e de Hitler, dentro de Itália.
Neste livro, o leitor está no centro da crítica literário, sendo que, para o escritor, cada livro nasce na presença de outros livros, à semelhança do que também pensava Jorge Luís Borges.

Não é um escritor de fácil leitura, mas é bom!

Um bjnh