26.5.08

O no-esquecimento subscreve

Do acordo ortográfico
Serve o presente texto para expor em breves palavras a minha posição sobre a adopção do acordo ortográfico mais recente, uma vez que me manifestei contra ele neste mesmo blog sem grande explicação. Em primeiro lugar referir que a sua adopção e a minha consequente posição sobre a sua adopção puxou por um lado supostamente nacionalista que eu não tenho e que refuto de todo. Há que ser crítico pelas razões que julgo certas e não por influência de determinados folclores políticos que são uma anedota per si. Assim, estou perfeitamente convicto – mesmo pela minha formação académica, bem como pelos estudos que tenho efectuado – que as manifestações culturais de uma determinada cultura obedecem, a priori, à dinâmica estabelecida entre as pessoas dessa cultura e a geografia onde esta se manifesta. No caso da língua portuguesa, nas suas múltiplas formas evolutivas, bem como na evolução específica das suas vertentes multi geográficas, estabeleceram-se diferenças por influência político-territorial que agora se tentam unificar. Um erro crasso a meu ver. Um erro porque, sendo adoptado por todas as culturas geograficamente distintas, o acordo desembocará inevitavelmente em novas especificidades geo-políticas, talvez de uma forma bem mais rápida do que se possa julgar. Se tanta gente diz que a sua pátria é a sua língua, eu afirmo que a minha língua é o território político onde a aprendi. Alterá-la com o intuito de forçar a sua unificação politica e territorial é querer de todo remar contra a maré, uma vez que as distintas formas de como a língua evoluiu obedeceu a uma evolução de séculos e, mesmo quando determinada por factores políticos – veja-se a independência dos PALOP’s – foi beber à evidência regional que essas línguas portuguesas já apresentavam. Por isso, acho, sejamos sérios. Pensemos nos argumentos contrários, como por exemplo as próximas gerações aprenderem o português deste acordo e rapidamente o adoptarem como certo. Também rapidamente o acordo será adoptado de diversas formas, de acordo com os diversos países onde se fala a língua. É óbvio que assim aconteça. O resultado será então que se assassinaram diversas línguas com um intuito de globalização, que nunca existe no plano da prática usual da língua e que, tenho a certeza, evolui muito mais rápido no plano prático da comunicação oficiosa do que na lenta e oficial forma de falar e escrever dos governantes. Tento falar e escrever a minha língua cada vez com mais perfeição, fazendo justiça a toda a sua evolução que me antecedeu e respeitando por isso toda a carga histórica que a compõe, que me compõe a mim, que dela sou filho. Não me obriguem a destruí-la em prol de vontades políticas obscuras, que não justificam as verdadeiras razões pela qual a adoptam. Assim, apelo ao boicote do acordo ortográfico, com o mesmo argumento com que sou contra a manipulação genética de seres humanos. Deixem a evolução seguir o seu plácido ritmo.


2 comments:

Anonymous said...

Claro que não me importo. É importante divulgar ideias para que sejam debatidas. muito argumentos haverão para além deste débil contributo.
beijo

Bárbara said...

Beijinho para ti também, e vai continuando a escrever as tuas ideias.

De uma tua leitora atenta.