A Literatura pode ser usada como importante ferramenta quanto a leccionação de elementos geográficos, ela não é possuidora de uma função meramente estética, ao contrário, ela acarreta consigo uma maior inciativa interpretativa que então depois pode ser usada na linguagem científica e na interpretação do território assim como nas demais variáveis que fazem parte dele Muitas vezes os geógrafos são acusados de desprezarem a literatura, fala-se de “ literatura geográfica” quase sempre com intuitos de maldizer, e deturpando muitas vezes a própria expressão também se terá falado de “geografia literária” mais ou menos com esse sentido.
A geografia procura também a análise da paisagem, com ela a sua interpretação dos traços fisionómicos da superfície terrestre, tendo por isso de considerar os elementos e factores que sobre ela fazem sentir os seus efeitos (GIRÃO, 1952: 105).
A importância dos textos literários na explicação de fenómenos geográficos, acentua-se pela capacidade de contemplação e enriquecimento da realidade buscada pelo geógrafo, uma vez que ela faz uso de recursos comuns como o ritmo, aliterações, personificações, metáforas e que nos aproxima muito mais das fotografias então retratadas. É como se o leitor sentisse que o que está ser dito fizesse parte dele, existe uma aproximação do espaço descrito pelo escritor e os nossos espaços interiores. Quantos de nós ao ler uma obra literária não sentiu esta experiência? No seguimento daquilo que está a ser dito, entende-se que: “O aspecto mais rico de uma obra literária para o estudo geográfico é o aspecto fenomenológico-existencialista do autor, que produz mundos e produz lugares, produz espaços e produz tempo. A maior riqueza não é a descrição, é a criação/revelação da relação homem-meio e os sentimentos e afectividades que se desenvolvem” (MATOS:1988).
Através de uma poética, como no caso particular de Guimarães Rosa e do conto Sanga Puytã, o autor conseguiu entender os limites do território e os diferentes contextos regionais através da linguagem diferenciada tão característica dos lugares que os separa. Estes diferentes contextos regionais estão normalmente muito presentes na literatura de fronteiras, estas assumem características diferentes entre si e análogas às fronteiras (objecto geográfico), que representam, esta qualificação é normalmente fornecida por personagens do texto que caracterizam as populações que habitam as mesmas.
Os aspectos culturais, festivos, amorosos e religiosos também são factores que destinguem os espaços e que salientam as diferenças regionais então tratadas, catadura muito tratada por escritores. Além destas condicionantes culturais e sociais, não podemos deixar de relevar os aspectos naturais( relevo, fauna, clima), que um texto literário acresce de informação ou ainda questões como o risco ambiental, a montanha, o espaço urbano, através das fontes escritas (BOIRA e RESQUES,1996:282).
A criação de mapas, de tratamento geográfico, não como metáforas, mas como ferramentas analíticas, trazem muitas vezes consigo à luz, relações que de outro modo ficariam ocultas(MORRETI, 2003: 3), averiguações tão úteis para a geografia. Os discursos e as cartas são duas formas essenciais da geografia, na verdade é quase impossível comunicar de forma tão explícita através da escrita aquilo que uma carta pode conter, por isso o uso destas como forma de clarificar aquilo que a literatura tantas vezes integra, adivinha-se como algo de grandes potencialidades.
Por conseguinte, não podemos deixar de focar que a Literatura em momento algum pretendeu ser objectiva ou globalizante no tratamento de qualquer problema. Aliás sobre isto, é importante referir que quanto ao conhecimento de elementos geográficos através destes textos literários, não se pretende de todo uma substituição da análise científica pela criação artística, mas apenas retirar dela novos aspectos de interpretação (CHOUPINA, 2005:25).
Estas fontes literárias de carácter não científico, ampliam a sua importância, uma vez que servem também para conhecer o conhecimento geográfico difundido entre aqueles que não possuem formação nesta área (BOIRA e RESQUES, 1996: 282), mas que de alguma forma a tentam retractar através dos seus escritos.
Os textos literários, romances históricos por exemplo, podem desfrutar de inúmeras informações sobre os espaços no passado, onde existe um grande conjunto de estudos publicados. A literatura entre muitas possibilidades que possui tem em si a facilidade de reconstruir as paisagens do passado não menos importantes para o conhecimento geográfico, atendendo à evolução das mesmas e à importância do tempo que já foi para o tempo que é. CHOUPINA (2005:16), refere que a Literatura muitas vezes pode ser a principal fonte ou mesmo a única que o geógrafo possui. Quando uma observação ou uma investigação oral do mundo já não é possível, ou tal como ainda o autor refere, o inquérito no local ou as informações escassas ou nada fiáveis não podem ser sujeitas a uma utilização, o texto literário funciona como um testemunho, onde assume o valor de documento. Desta maneira quando em contacto com textos literários que fazem verdadeiras reconstruções de uma paisagem regional, urbana, agrícola que já desapareceu à muito tempo estamos a entrar naquilo que se designa pela Geografia Histórica. A literatura adapta assim o valor de um documento histórico onde se pode conhecer o espaço do passado (BOIRA e RESQUES 1996: 280). Muita da investigação feita com base em obras literárias tem sido no domínio da Geografia Histórica, destaca-se o trabalho de JÚLIA GALEGO E SUZANNE DAVEAU(1986), JOÃO GARCIA(1986) e (CRAVIDÃO, 1992).
Neste plano de actuação entendemos que a literatura constitui uma área de investigação de grande qualidade, uma visão reveladora de um lugar, de um espaço. Um romance situa muitas vezes um grupo, um herói, família, categoria social no seu meio regional(FRÉMONT, 1980: 97,98), que esboçam um ou outro arranjo de caminhos interpretativos em relação a um texto, a uma ideia crítica ou mesmo um poema.
Entende-se assim que as criações ficcionais podem servir como fonte para a descrição e compreensão geográfica.
Bibliografia:
A importância dos textos literários na explicação de fenómenos geográficos, acentua-se pela capacidade de contemplação e enriquecimento da realidade buscada pelo geógrafo, uma vez que ela faz uso de recursos comuns como o ritmo, aliterações, personificações, metáforas e que nos aproxima muito mais das fotografias então retratadas. É como se o leitor sentisse que o que está ser dito fizesse parte dele, existe uma aproximação do espaço descrito pelo escritor e os nossos espaços interiores. Quantos de nós ao ler uma obra literária não sentiu esta experiência? No seguimento daquilo que está a ser dito, entende-se que: “O aspecto mais rico de uma obra literária para o estudo geográfico é o aspecto fenomenológico-existencialista do autor, que produz mundos e produz lugares, produz espaços e produz tempo. A maior riqueza não é a descrição, é a criação/revelação da relação homem-meio e os sentimentos e afectividades que se desenvolvem” (MATOS:1988).
Através de uma poética, como no caso particular de Guimarães Rosa e do conto Sanga Puytã, o autor conseguiu entender os limites do território e os diferentes contextos regionais através da linguagem diferenciada tão característica dos lugares que os separa. Estes diferentes contextos regionais estão normalmente muito presentes na literatura de fronteiras, estas assumem características diferentes entre si e análogas às fronteiras (objecto geográfico), que representam, esta qualificação é normalmente fornecida por personagens do texto que caracterizam as populações que habitam as mesmas.
Os aspectos culturais, festivos, amorosos e religiosos também são factores que destinguem os espaços e que salientam as diferenças regionais então tratadas, catadura muito tratada por escritores. Além destas condicionantes culturais e sociais, não podemos deixar de relevar os aspectos naturais( relevo, fauna, clima), que um texto literário acresce de informação ou ainda questões como o risco ambiental, a montanha, o espaço urbano, através das fontes escritas (BOIRA e RESQUES,1996:282).
A criação de mapas, de tratamento geográfico, não como metáforas, mas como ferramentas analíticas, trazem muitas vezes consigo à luz, relações que de outro modo ficariam ocultas(MORRETI, 2003: 3), averiguações tão úteis para a geografia. Os discursos e as cartas são duas formas essenciais da geografia, na verdade é quase impossível comunicar de forma tão explícita através da escrita aquilo que uma carta pode conter, por isso o uso destas como forma de clarificar aquilo que a literatura tantas vezes integra, adivinha-se como algo de grandes potencialidades.
Por conseguinte, não podemos deixar de focar que a Literatura em momento algum pretendeu ser objectiva ou globalizante no tratamento de qualquer problema. Aliás sobre isto, é importante referir que quanto ao conhecimento de elementos geográficos através destes textos literários, não se pretende de todo uma substituição da análise científica pela criação artística, mas apenas retirar dela novos aspectos de interpretação (CHOUPINA, 2005:25).
Estas fontes literárias de carácter não científico, ampliam a sua importância, uma vez que servem também para conhecer o conhecimento geográfico difundido entre aqueles que não possuem formação nesta área (BOIRA e RESQUES, 1996: 282), mas que de alguma forma a tentam retractar através dos seus escritos.
Os textos literários, romances históricos por exemplo, podem desfrutar de inúmeras informações sobre os espaços no passado, onde existe um grande conjunto de estudos publicados. A literatura entre muitas possibilidades que possui tem em si a facilidade de reconstruir as paisagens do passado não menos importantes para o conhecimento geográfico, atendendo à evolução das mesmas e à importância do tempo que já foi para o tempo que é. CHOUPINA (2005:16), refere que a Literatura muitas vezes pode ser a principal fonte ou mesmo a única que o geógrafo possui. Quando uma observação ou uma investigação oral do mundo já não é possível, ou tal como ainda o autor refere, o inquérito no local ou as informações escassas ou nada fiáveis não podem ser sujeitas a uma utilização, o texto literário funciona como um testemunho, onde assume o valor de documento. Desta maneira quando em contacto com textos literários que fazem verdadeiras reconstruções de uma paisagem regional, urbana, agrícola que já desapareceu à muito tempo estamos a entrar naquilo que se designa pela Geografia Histórica. A literatura adapta assim o valor de um documento histórico onde se pode conhecer o espaço do passado (BOIRA e RESQUES 1996: 280). Muita da investigação feita com base em obras literárias tem sido no domínio da Geografia Histórica, destaca-se o trabalho de JÚLIA GALEGO E SUZANNE DAVEAU(1986), JOÃO GARCIA(1986) e (CRAVIDÃO, 1992).
Neste plano de actuação entendemos que a literatura constitui uma área de investigação de grande qualidade, uma visão reveladora de um lugar, de um espaço. Um romance situa muitas vezes um grupo, um herói, família, categoria social no seu meio regional(FRÉMONT, 1980: 97,98), que esboçam um ou outro arranjo de caminhos interpretativos em relação a um texto, a uma ideia crítica ou mesmo um poema.
Entende-se assim que as criações ficcionais podem servir como fonte para a descrição e compreensão geográfica.
Bibliografia:
BOIRA Marques, J., RESQUES, Velasco, P.(1996) “ Las fuentes Literarias documentales en geografia” in Morteno Jiménez e Marron Gaite (ed), Ensenãr Geografia. De la Teoria a La prática, editorial Sintesis, Madrid
CHOUPINA, A. (2005): O Lugar do meio: uma leitura geográfica da obra de Miguel Torga, Instituto de Estudos Geográficos, Coimbra
FRÉMONT, A(1980): A região, espaço vivido, Livraria Almedina, Coimbra
GIRÃO, A (1952): Geografia e Literatura”, Boletim do Centro de Estudos Geográficos, nº4 e 5
MATOS, CAMPOS, A.(1988): Dicionário de Eça de Queirós, Lisboa
MORRETI, FRANCO(2003): Atlas do romance Europeu 1800- 1900, Boitempo, São Paulo
Sites consultados:
Imagem: Encontrada na web.
Bárbara
5 comments:
Este teu trabalho, Bárbara, deu-te certamente umas horas de leitura e de investigação, a par de uma enorma "trabalheira" para compilar toda a informação obtida.
Não é nada fácil comentar texto assaz longo em poucas palavras.
Direi, por isso, que a Literatura serviu sempre de testemunho quando teve que se fazer chegar a informação e não havia Internet nem telefone, por exemplo.
A riqueza da Literatura, no campo da Geografia, é exactamente poder dar ao leitor essae ultrapassar de fronteiras através da descrição dos usos e costumes de um povo ou de aspectos linguísticos dos mesmos.
Só lamento que os sites consultados sejam, na sua maioria, brasileiros. Mas disso, provavelmente as maiores culpas não são tuas. A informação, em muitos campos, é bastante escassa em Portugal.
De qualquer modo, seria bom que fizesse uma revisão muito cuidada dos textos que tiras das tuas leituras, pois há alguns erros (poucos) e brasileirismos(muitos) que detectei.
Desculpa a minha observação enão leves a mal, por favor. Acontece a todos, sem excepção.
Um abraço
Jorge G
Claro que não levo a mal, muito pelo contrário.
Muita da literatura que li entre sites e outros livros são efectivamente brasileiros, mas isto deve-se sobretudo porque são eles aqueles que fazem uma maior investigação em relação a esta nova prática interdisciplinar, por isso e se calhar os tantos "brasileirismos(muitos)" que encontras.
Abraço
Bárbara
A literatura, transformou-se nestes últimos anos, entre a comunidade internacional de geógrafos, em mais um recurso cientifico. Esta é utilizada, para explorar as análises territoriais a que a geografia e os geografos nos têm habituado.
Fico contente em observar, que existem, ainda, pessoas que tentam divulgar a ciência geográfica, valorizando as diversas abordagens, visto que, esta ciência é mal compreendida e interpretada no seio da comunidade cientifica.
A bibliografia demostra uma pesquisa aprofundada e actual sobre esta temática, tão pouco utilizada em Portugal, e que sei que tens vindo a desenvolver.
Excelente trabalho.
Um abraço
bom dia Barbara
este teu trabalho é um excelente exemplo de como a blogosfera é abrangente e universal, onde cabem todos os temas .
os textos literários podem de facto ser utilizados em todos os assuntoe e, se bem escritos ... se bem "literários" quanto a mim ficam com duas funções - a cultura e aprendizagem de todos e o prazer de quem os escreveru.
por isso seria fundamental uma disciplina de português nas escolas ministrada de forma motivante, acolhedora e até divertida ... e por vezes, pelas mais variadas razões, não é assim.
os textos literários ou melhor, a forma "literária" de nos exprimirmos, serve tb para te desejar um excelente dia e te mandar um beijinho saído deste dia solarengo de domingo, sem faltar é claro, 1 sorriso luminoso.
lana
Olá lana.
"a cultura e aprendizagem de todos e o prazer de quem os escreveu.", isto é de facto o mais importante e interessante no meu entender, também concordo quanto à forma ministrada na escola, penso que tive alguma sorte neste aspecto, já que muitas das minhas aulas foram dadas sempre que possível da forma que tu as descreves.
Um grande sorriso também para ti.
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