6.12.06

Não me esqueci!


Estou suspensa pela pressa de chegar e prossigo viagem acompanhada pela decisão que tomei. Desajeitadamente encosto a cabeça ao vidro, pergunto-me: terei eu colocado no saco todos os pormenores que me lembram tantas vezes de como tratar o dia-a-dia. Parece que não me esqueci de nada!!! Passo a pente fino a minha memória e num descanso sem sentido fecho os olhos. Levei um certo tempo até adormecer acarinhada pela melancolia de uma música qualquer. Ups!!..esqueci-me, esqueci-me de não sonhar contigo mais uma vez.
Viajamos noutros lugares, alargando os horizontes das nossas diferenças despertadas pela crueza da luz. Recortas-me, e tentas me colar, entendes que o puzzle é complicado e afectas profundamente o meu lado marginal, aquele que é cheio de verdades violentas. Somos vigiados pelos prazeres que brincam amorosamente e que surgem com aquela leveza tão típica dos sonhos. Os beijos são apanhados desprevenidamente pelos lábios, e os sussurros adormecem nos teus ouvidos.
Acordo numa estação distraída...não me esqueci de sonhar contigo. Tenho medo que descubras. Desço o último degrau e despeço-me da carruagem que me embalou até ti.
Tu nunca te esqueces de esperar por mim. Vou contigo. Para onde me levas?
Bárbara
Imagem:Filme, Un Long Dimanche de Fiançailles, Jean-Pierre Jeunet

2 comments:

Jorge P. Guedes said...

Bárbara, que dizer?

São as viagens dos sonhos que nos embalam e auxiliam a viver, a querer viver.
Nunca deixes de sonhar, por favor.

um bjnh. com ternura

jorge G - um pobre sineiro de aldeia de sonhos já esbatidos, mas não enterrados em vida.

Anonymous said...

"Mas era ela que sempre desejara. Se um dia encontrasse o seu paraíso pessoal, se é que tal coisa existe, era com essa rapariga que lá havia de viver. A rapariga do sonho era o "es muss sein!" do seu amor. Lembrou-se do célebre mito do Banquete de Platão: dantes, em tempos muito recuados, os humanos eram hermafroditas e Deus separou-os em duas metades, que, desde então, erram pelo mundo à procura uma da outra. Amar é desejar essa metade perdida de nós próprios. Admitamos que assim seja; que cada um de nós tenha algures no mundo um par com o qual constituía em tempos um único corpo. A outra metade de Tomas é a rapariga com quem ele sonhou. Mas nunca ninguém há-de encontrar a outra metade de si próprio. Em vez dela, mandam-lhe uma Tereza dentro de uma cesta ao sabor das águas. Mas o que acontecérá depois, se encontrar realmente a mulher que lhe estava destinada, a outra metade de si próprio? Qual é que deve preferir? A mulher que encontrou numa cesta ou a mulher do mito de Platão?"
Milan Kundera - "A Insustentável Leveza do Ser"

;)