17.11.06

Outros passos


Mostra-me as tuas habilidades
Conduz-me com a tua conversa
Recorda-me como chego até ti
Convida-me para dançar...
Bárbara

16.11.06

Inquietudes contemporâneas



Filme: Baraka, Ron Fricke, 1992

Os grandes temas humanos , os grandes problemas sociais, os principais desafios económicos culturais e ecológicos são a referência nesta obra que se traduz em incertezas e ameaças que não podemos, nunca, deixar de pensar.

Bárbara

"Esses clamores ao longe são -como distinguir?- um mundo a nascer ou a morte de porvir? Que todo o ser de carne tem sempre, afinal, um grito para a morte e para o parto igual."
Louis Aragon, " la nuit de juillet" in La diane française.

13.11.06

Helena de Tróia dança em cima do balcão

O mundo está cheio de mulheres
prontas a dizer-me que devia ter vergonha,
se eu as deixasse. Deixa de dançar.
Vê se aprendes a dar-te ao respeito
e um emprego.
Pois. E o ordenado mínimo,
e varizes, de estar de pé
no mesmo sítio oito horas seguidas
atrás de um balcão de vidro,
tapada até ao pescoço, em vez de
nua como uma sande de carne.
A vender luvas, ou qualquer coisa do género.
Em vez daquilo que, de facto, vendo.
Tem que se ter talento para impingir uma coisa tão nebulosa e sem forma.
Explorada, diriam elas. Sim senhora, não
tem que saber, mas posso escolher como e ficar com o dinheiro.

Eu sou valor acrescentado, a sério.
Tal como os pregadores, eu vendo visões,
como anúncios de perfume, desejo ou sucedâneo. Como com as anedotas
ou a guerra, o truque está em encontar a latura certa.
Aos homens vendo, com juros, as piores suspeitas:
que tudo está à venda,
e a retalho. Eles olham para mim e vêem
um assasinato com uma serra eléctrica prestes a acontecer,
quando coxa, rabo, tatuagem, rego, mama e mamilo
ainda estão juntos.
Olhem como eles se enchem de ódio,
os meus adoradores cheios de cerveja!Isso, ou então um remeloso
e desesperado amor. Vendo as filas de cabeças
e olhos revirados, suplicantes
mas prontos a morder-me as canelas, compreendo as cheias e os terramotos
e o desejo incontrolável de calcar formigas. Mantenho o ritmo,
e danço para eles porque eles não conseguem. A música cheira a raposas,
tesa como metal quente
a rasgar as narinas
ou húmida como Agosto, envolta em névoa e langorosa
como o dia seguinte numa cidade pilhada,
quando já trataram das violações, e da matança,
e os sobreviventes vagueiam,
vira-latas, à procura de comida
e só encontram frio cansaço.
A propósito, o sorriso,
O Sorriso é o mais cansativo.
Isso e fingir
Que não os ouço.
E não ouço porque, a final de contas,
sou estrangeira para eles.
A língua que aqui se fala é só guturais àsperas,
óbvias como lascas de presunto,
mas eu venho da terra dos deuses
onde os sentidos são oscilantes e oblíquos.
Eu não me abro com qualquer um, mas encosto-me e sussurro:
A minha mãe foi violada por um cisne sagrado.
Dá para acreditar? Se quiseres podes convidar-me para jantar.
È isto que eu digo a todos os maridos.
Há cada passarão perigoso por aqui.

Não que alguém por estas bandas
perceba, excepto tu.
Os outros haviam de gostar de olhar para mim
e não sentir nada. Reduzir-me a componentes
como numa fábrica de relógios ou num matadouro.
Esmagar o mistério.
Emparedar-me
no meu próprio corpo.
Haviam de gostar de me atravessar com o olhar,
mas nada é mais opaco
do que a transparência absoluta.
Vejam- os meus pés não tocam no mármore!
Como um sopro ou um balão, começa a subir.
Pairo no ar acerca de vinte centímetros,
Pensam que eu não sou uma deusa?
Desafiem-me.
Isto é um cântico tocha.
Toquem-me e ardem.

Margaret Atwood, Morning in the Burned House, 1995
Tradução de Maria Helena Dias Loureiro

Desço contigo a calçada da cidade que nos apresentou.
Hoje, naqueles dias, em lugares cheios e vazios, e nós,
cansadas da música, de estar de pé, esperamos algo,
o não acontecer.
O que pensar? Já não se bebe o chá, e os cigarros acabaram.
O tempo passa com uma tendência incorrigível,
a amizade celebra-se em naturais e elegantes conversas.

Bárbara
Para: Sandra Costa

11.11.06

Importância dos textos literários na explicação de fenómenos geográficos


A Literatura pode ser usada como importante ferramenta quanto a leccionação de elementos geográficos, ela não é possuidora de uma função meramente estética, ao contrário, ela acarreta consigo uma maior inciativa interpretativa que então depois pode ser usada na linguagem científica e na interpretação do território assim como nas demais variáveis que fazem parte dele Muitas vezes os geógrafos são acusados de desprezarem a literatura, fala-se de “ literatura geográfica” quase sempre com intuitos de maldizer, e deturpando muitas vezes a própria expressão também se terá falado de “geografia literária” mais ou menos com esse sentido.
A geografia procura também a análise da paisagem, com ela a sua interpretação dos traços fisionómicos da superfície terrestre, tendo por isso de considerar os elementos e factores que sobre ela fazem sentir os seus efeitos (GIRÃO, 1952: 105).
A importância dos textos literários na explicação de fenómenos geográficos, acentua-se pela capacidade de contemplação e enriquecimento da realidade buscada pelo geógrafo, uma vez que ela faz uso de recursos comuns como o ritmo, aliterações, personificações, metáforas e que nos aproxima muito mais das fotografias então retratadas. É como se o leitor sentisse que o que está ser dito fizesse parte dele, existe uma aproximação do espaço descrito pelo escritor e os nossos espaços interiores. Quantos de nós ao ler uma obra literária não sentiu esta experiência? No seguimento daquilo que está a ser dito, entende-se que: “O aspecto mais rico de uma obra literária para o estudo geográfico é o aspecto fenomenológico-existencialista do autor, que produz mundos e produz lugares, produz espaços e produz tempo. A maior riqueza não é a descrição, é a criação/revelação da relação homem-meio e os sentimentos e afectividades que se desenvolvem” (MATOS:1988).
Através de uma poética, como no caso particular de Guimarães Rosa e do conto Sanga Puytã, o autor conseguiu entender os limites do território e os diferentes contextos regionais através da linguagem diferenciada tão característica dos lugares que os separa. Estes diferentes contextos regionais estão normalmente muito presentes na literatura de fronteiras, estas assumem características diferentes entre si e análogas às fronteiras (objecto geográfico), que representam, esta qualificação é normalmente fornecida por personagens do texto que caracterizam as populações que habitam as mesmas.
Os aspectos culturais, festivos, amorosos e religiosos também são factores que destinguem os espaços e que salientam as diferenças regionais então tratadas, catadura muito tratada por escritores. Além destas condicionantes culturais e sociais, não podemos deixar de relevar os aspectos naturais( relevo, fauna, clima), que um texto literário acresce de informação ou ainda questões como o risco ambiental, a montanha, o espaço urbano, através das fontes escritas (BOIRA e RESQUES,1996:282).
A criação de mapas, de tratamento geográfico, não como metáforas, mas como ferramentas analíticas, trazem muitas vezes consigo à luz, relações que de outro modo ficariam ocultas(MORRETI, 2003: 3), averiguações tão úteis para a geografia. Os discursos e as cartas são duas formas essenciais da geografia, na verdade é quase impossível comunicar de forma tão explícita através da escrita aquilo que uma carta pode conter, por isso o uso destas como forma de clarificar aquilo que a literatura tantas vezes integra, adivinha-se como algo de grandes potencialidades.
Por conseguinte, não podemos deixar de focar que a Literatura em momento algum pretendeu ser objectiva ou globalizante no tratamento de qualquer problema. Aliás sobre isto, é importante referir que quanto ao conhecimento de elementos geográficos através destes textos literários, não se pretende de todo uma substituição da análise científica pela criação artística, mas apenas retirar dela novos aspectos de interpretação (CHOUPINA, 2005:25).
Estas fontes literárias de carácter não científico, ampliam a sua importância, uma vez que servem também para conhecer o conhecimento geográfico difundido entre aqueles que não possuem formação nesta área (BOIRA e RESQUES, 1996: 282), mas que de alguma forma a tentam retractar através dos seus escritos.
Os textos literários, romances históricos por exemplo, podem desfrutar de inúmeras informações sobre os espaços no passado, onde existe um grande conjunto de estudos publicados. A literatura entre muitas possibilidades que possui tem em si a facilidade de reconstruir as paisagens do passado não menos importantes para o conhecimento geográfico, atendendo à evolução das mesmas e à importância do tempo que já foi para o tempo que é. CHOUPINA (2005:16), refere que a Literatura muitas vezes pode ser a principal fonte ou mesmo a única que o geógrafo possui. Quando uma observação ou uma investigação oral do mundo já não é possível, ou tal como ainda o autor refere, o inquérito no local ou as informações escassas ou nada fiáveis não podem ser sujeitas a uma utilização, o texto literário funciona como um testemunho, onde assume o valor de documento. Desta maneira quando em contacto com textos literários que fazem verdadeiras reconstruções de uma paisagem regional, urbana, agrícola que já desapareceu à muito tempo estamos a entrar naquilo que se designa pela Geografia Histórica. A literatura adapta assim o valor de um documento histórico onde se pode conhecer o espaço do passado (BOIRA e RESQUES 1996: 280). Muita da investigação feita com base em obras literárias tem sido no domínio da Geografia Histórica, destaca-se o trabalho de JÚLIA GALEGO E SUZANNE DAVEAU(1986), JOÃO GARCIA(1986) e (CRAVIDÃO, 1992).
Neste plano de actuação entendemos que a literatura constitui uma área de investigação de grande qualidade, uma visão reveladora de um lugar, de um espaço. Um romance situa muitas vezes um grupo, um herói, família, categoria social no seu meio regional(FRÉMONT, 1980: 97,98), que esboçam um ou outro arranjo de caminhos interpretativos em relação a um texto, a uma ideia crítica ou mesmo um poema.
Entende-se assim que as criações ficcionais podem servir como fonte para a descrição e compreensão geográfica.

Bibliografia:
BOIRA Marques, J., RESQUES, Velasco, P.(1996) “ Las fuentes Literarias documentales en geografia” in Morteno Jiménez e Marron Gaite (ed), Ensenãr Geografia. De la Teoria a La prática, editorial Sintesis, Madrid
CHOUPINA, A. (2005): O Lugar do meio: uma leitura geográfica da obra de Miguel Torga, Instituto de Estudos Geográficos, Coimbra
FRÉMONT, A(1980): A região, espaço vivido, Livraria Almedina, Coimbra
GIRÃO, A (1952): Geografia e Literatura”, Boletim do Centro de Estudos Geográficos, nº4 e 5
MATOS, CAMPOS, A.(1988): Dicionário de Eça de Queirós, Lisboa
MORRETI, FRANCO(2003): Atlas do romance Europeu 1800- 1900, Boitempo, São Paulo
Sites consultados:

Imagem: Encontrada na web.
Bárbara

4.11.06

Segredos ao ouvido

Bárbara

Indefinição positiva



Fotografia: Alexander Rodchenko, Girl with "Leica", 1934

Um cerco onde os sonhos pegam ao colo febres imprecisas que a companhia de um vinho contraria e descompromete aquilo que às vezes parece demasiado..

Bárbara