31.12.06

Mesa de cabeceira II

Fotografia: Bárbara, Presente de Natal, 2006
"O que Sócrates diria a Woddy Allen" escrito por Juan Antonio Rivera obteve em Espanha o Premio Espasa Ensayo 2005, tendo sido um enorme êxito de livraria no país vizinho.
Foi um presente de Natal absolutamente extraordinário, não só porque desconhecia o livro, mas sobretudo porque foi uma verdadeira revelação a sua leitura. Obrigatória para quem gosta de cinema!
Não fiquem tristes aqueles que ao contrário de mim não são apreciadores de Woddy Allen, porque apesar do título, o livro refere muitos e variados filmes desde os clássicos como Casablanca(1942), de Michael Curtiz ou The Reckless Moment(1949), de Max Ophuls até aos mais recentes como The Matrix (1999), de Andy e Larry Wachowski.
Mais de que a escolha dos filmes aquilo que é supreendente é a forma tão lúdica e tão simples como são tratadas matérias da filosofia como o amor, a morte, a felicidade, a racionalidade, a maldade, a falta de vontade ou o acaso que se conjuga com a referência a inúmeros filósofos desde os clássicos aos contemporâneos.
Um livro de filosofia e de cinema que vem dar um novo fôlego à literatura sobre cinema que muitas vezes se não é cheia de termos técnicos e que ninguém domina, outras vezes é aborrecida e complicada.
Bárbara

18.12.06

17.12.06

" Começa como devia começar..."

A noite está quente como o inferno. Tudo se cola. É um quarto nojento numa parte nojenta de uma cidade nojenta.O ar condicionado é uma lata barulhenta que não dava para manter uma bebida fresca mesmo que lha pusesses em cima.
Estou a olhar para uma Deusa ela diz que me quer. Parece ser a sério. Não gasto nem mais um segundo a perguntar donde me caiu tanta sorte.
Metes-te numa luta, lutas numa guerra, e pensas que o pior de tudo vai valer a pena por um grande momento...mas esse momento por muito bom que seja nunca mais chega...mas isto...pergunto porquê uma última vez ..depois ela cai contra mim...a escorrer aquele suor de anjo dela...mulher perfeita. Deusa. Goldie.
Diz que se chama Goldie.
Frank Miller, Sin City, A cidade do pecado.
Bárbara

9.12.06

Ela canta, pobre ceifeira… (Fernando Pessoa)

Escutar, ao longe, uma mulher que, na sua lide quotidiana (no ardor cíclico do seu mundo), exprime em mezzo voce um cantar genuinamente popular, traz a mim a consciência dos tempos primordiais. Não falarei aqui das coisas primeiras que, como diria um poeta, seriam verdes ou azuis, com água pela cintura... (António Franco Alexandre) não pretendo tal imagem desbotada pela sólida imaginação de quem o pensou inicialmente e escreveu… procuro sim perceber de onde vem aquela melodia ancestral que preenche os tímpanos trazendo algo com que me identifico… procuro olvidar as razões de uma remota reminiscência genética que brota e eleva-se no meu pensamento como o vento que toca ao de leve na face e segue o seu caminho depois de subtilmente nos afectar os sentidos…Não quero saber porque canta…não sou suficientemente astuto para formular tais teses a que nem Pessoa, a meu ver, ambicionou realmente responder… Qual a razão para esse canto me provocar e me elevar até às líricas rodas ancestrais da vida? Tão cíclicas como a minha presente escrita, que ainda não fugiu a essa interrogação e repete-a sem cessar até à exaustão…
(…)
- Porque o poder do homem é desconhecido…
- Porque o poder da alma é majestoso…
(…)
Porque possuo dentro de mim um sentido de pertença que se activa facilmente com tudo o que se ergue e me traga um sabor culturalmente genuíno do contexto espacial natal… faz com que me aperceba que não sou verde ou azul, com água pela cintura, mas sim, como outros que vivem a meu lado, um reservatório pretérito de uma alma original que, num mito de movimentos giratórios (quase um verdadeiro samsara), penetrou no coração de uma colectividade e, com ela, permaneceu em rito sem sair desta realidade espiral do tempo.
Na amargura quotidiana desta vida, alguns desses reservatórios de água (que só cresce com a nossa atenção) perdem-se no tempo e se libertam finalmente das constantes reencarnações, não por ter atingido a perfeição de um Brahman, nem mesmo por ter expurgado os pecados do mundo ou ter atingido o seu futuro histórico. Afundam-se pela nossa falta de atenção para com as coisas primordiais, para o cuidado da nossa alma … do nosso bairrismo sadio.
Na ânsia presente deste mundo amorfo, procuro, com voraz insistência, ouvir os sons e seus jocosos remendos invocados nas cordas vocais da dita mulher e guardar essa alma dentro dos meus sentidos… só assim guardarei o pouco que resta das nossas coisas primeiras que, aos poucos, morrem neste desvario espelho de água que se parte, levando assim a pouca água de uma atenção ulterior. Emerge, como uma névoa solitária, o vazio de não saber onde jazem os nossos antepassados espirituais… as nossas coisas pequenas… a pertença da nossa alma… a alma da nossa pertença… a conjugação do nosso eu com a comunidade… o mais genuíno dos sentidos… o primordial…

Duarte Freitas, 11 de Maio de 2006

Elogia-se a amizade numa carta...
Imagem: Porque as palavras às vezes já são tão representativas que não existem imagens que as representem, meu amigo....preferi assim...

Bárbara e Duarte

7.12.06

Ambiências


Este blog hoje está acompanhado por Nina Simone e exala jasmim com óleo de amêndoas torradas.
Bárbara

6.12.06

Não me esqueci!


Estou suspensa pela pressa de chegar e prossigo viagem acompanhada pela decisão que tomei. Desajeitadamente encosto a cabeça ao vidro, pergunto-me: terei eu colocado no saco todos os pormenores que me lembram tantas vezes de como tratar o dia-a-dia. Parece que não me esqueci de nada!!! Passo a pente fino a minha memória e num descanso sem sentido fecho os olhos. Levei um certo tempo até adormecer acarinhada pela melancolia de uma música qualquer. Ups!!..esqueci-me, esqueci-me de não sonhar contigo mais uma vez.
Viajamos noutros lugares, alargando os horizontes das nossas diferenças despertadas pela crueza da luz. Recortas-me, e tentas me colar, entendes que o puzzle é complicado e afectas profundamente o meu lado marginal, aquele que é cheio de verdades violentas. Somos vigiados pelos prazeres que brincam amorosamente e que surgem com aquela leveza tão típica dos sonhos. Os beijos são apanhados desprevenidamente pelos lábios, e os sussurros adormecem nos teus ouvidos.
Acordo numa estação distraída...não me esqueci de sonhar contigo. Tenho medo que descubras. Desço o último degrau e despeço-me da carruagem que me embalou até ti.
Tu nunca te esqueces de esperar por mim. Vou contigo. Para onde me levas?
Bárbara
Imagem:Filme, Un Long Dimanche de Fiançailles, Jean-Pierre Jeunet

4.12.06

Mesa de cabeceira



Terceira Noite

Hoje, o dia esteve triste, chuvoso, sem luz, como a minha futura velhice. Fui assediado por estranhos pensamentos; sentimentos turvos, questões ainda obscuras para mim, comprimiam-se dentro do meu cérebro, sem que eu tivesse força ou vontade para as solucionar. Não, não seria eu quem poderia resolver tudo isso!
Hoje não nos veremos. Ontem, quando nos deixámos, as nuvens espalhavam-se no céu e o nevoeiro adensava-se. Disse que o dia seria mau; ela não me respondeu, pois não queria falar contra si própria: para ela, este dia é luminoso e claro e nenhuma nuvem poderá eclipsar a sua felicidade.
"Caso chova, não nos veremos", dissera ela, "não virei".
Pensei que ela não iria notar a chuva de hoje, mas no entanto, não veio.
Fédor Dostoievski, Noites Brancas
Bárbara

2.12.06

Pausa...



Deixa-se de lado o trabalho para ver e rever Annie Hall, a manta e as almofadas estão prontas!!Estreia-se no meu quarto com entrada gratuita e na companhia de Woody Allen uma viagem pelo universo das neuroses e do desconcertante.
Bem-Vindos!

1.12.06

17.11.06

Outros passos


Mostra-me as tuas habilidades
Conduz-me com a tua conversa
Recorda-me como chego até ti
Convida-me para dançar...
Bárbara

16.11.06

Inquietudes contemporâneas



Filme: Baraka, Ron Fricke, 1992

Os grandes temas humanos , os grandes problemas sociais, os principais desafios económicos culturais e ecológicos são a referência nesta obra que se traduz em incertezas e ameaças que não podemos, nunca, deixar de pensar.

Bárbara

"Esses clamores ao longe são -como distinguir?- um mundo a nascer ou a morte de porvir? Que todo o ser de carne tem sempre, afinal, um grito para a morte e para o parto igual."
Louis Aragon, " la nuit de juillet" in La diane française.

13.11.06

Helena de Tróia dança em cima do balcão

O mundo está cheio de mulheres
prontas a dizer-me que devia ter vergonha,
se eu as deixasse. Deixa de dançar.
Vê se aprendes a dar-te ao respeito
e um emprego.
Pois. E o ordenado mínimo,
e varizes, de estar de pé
no mesmo sítio oito horas seguidas
atrás de um balcão de vidro,
tapada até ao pescoço, em vez de
nua como uma sande de carne.
A vender luvas, ou qualquer coisa do género.
Em vez daquilo que, de facto, vendo.
Tem que se ter talento para impingir uma coisa tão nebulosa e sem forma.
Explorada, diriam elas. Sim senhora, não
tem que saber, mas posso escolher como e ficar com o dinheiro.

Eu sou valor acrescentado, a sério.
Tal como os pregadores, eu vendo visões,
como anúncios de perfume, desejo ou sucedâneo. Como com as anedotas
ou a guerra, o truque está em encontar a latura certa.
Aos homens vendo, com juros, as piores suspeitas:
que tudo está à venda,
e a retalho. Eles olham para mim e vêem
um assasinato com uma serra eléctrica prestes a acontecer,
quando coxa, rabo, tatuagem, rego, mama e mamilo
ainda estão juntos.
Olhem como eles se enchem de ódio,
os meus adoradores cheios de cerveja!Isso, ou então um remeloso
e desesperado amor. Vendo as filas de cabeças
e olhos revirados, suplicantes
mas prontos a morder-me as canelas, compreendo as cheias e os terramotos
e o desejo incontrolável de calcar formigas. Mantenho o ritmo,
e danço para eles porque eles não conseguem. A música cheira a raposas,
tesa como metal quente
a rasgar as narinas
ou húmida como Agosto, envolta em névoa e langorosa
como o dia seguinte numa cidade pilhada,
quando já trataram das violações, e da matança,
e os sobreviventes vagueiam,
vira-latas, à procura de comida
e só encontram frio cansaço.
A propósito, o sorriso,
O Sorriso é o mais cansativo.
Isso e fingir
Que não os ouço.
E não ouço porque, a final de contas,
sou estrangeira para eles.
A língua que aqui se fala é só guturais àsperas,
óbvias como lascas de presunto,
mas eu venho da terra dos deuses
onde os sentidos são oscilantes e oblíquos.
Eu não me abro com qualquer um, mas encosto-me e sussurro:
A minha mãe foi violada por um cisne sagrado.
Dá para acreditar? Se quiseres podes convidar-me para jantar.
È isto que eu digo a todos os maridos.
Há cada passarão perigoso por aqui.

Não que alguém por estas bandas
perceba, excepto tu.
Os outros haviam de gostar de olhar para mim
e não sentir nada. Reduzir-me a componentes
como numa fábrica de relógios ou num matadouro.
Esmagar o mistério.
Emparedar-me
no meu próprio corpo.
Haviam de gostar de me atravessar com o olhar,
mas nada é mais opaco
do que a transparência absoluta.
Vejam- os meus pés não tocam no mármore!
Como um sopro ou um balão, começa a subir.
Pairo no ar acerca de vinte centímetros,
Pensam que eu não sou uma deusa?
Desafiem-me.
Isto é um cântico tocha.
Toquem-me e ardem.

Margaret Atwood, Morning in the Burned House, 1995
Tradução de Maria Helena Dias Loureiro

Desço contigo a calçada da cidade que nos apresentou.
Hoje, naqueles dias, em lugares cheios e vazios, e nós,
cansadas da música, de estar de pé, esperamos algo,
o não acontecer.
O que pensar? Já não se bebe o chá, e os cigarros acabaram.
O tempo passa com uma tendência incorrigível,
a amizade celebra-se em naturais e elegantes conversas.

Bárbara
Para: Sandra Costa

11.11.06

Importância dos textos literários na explicação de fenómenos geográficos


A Literatura pode ser usada como importante ferramenta quanto a leccionação de elementos geográficos, ela não é possuidora de uma função meramente estética, ao contrário, ela acarreta consigo uma maior inciativa interpretativa que então depois pode ser usada na linguagem científica e na interpretação do território assim como nas demais variáveis que fazem parte dele Muitas vezes os geógrafos são acusados de desprezarem a literatura, fala-se de “ literatura geográfica” quase sempre com intuitos de maldizer, e deturpando muitas vezes a própria expressão também se terá falado de “geografia literária” mais ou menos com esse sentido.
A geografia procura também a análise da paisagem, com ela a sua interpretação dos traços fisionómicos da superfície terrestre, tendo por isso de considerar os elementos e factores que sobre ela fazem sentir os seus efeitos (GIRÃO, 1952: 105).
A importância dos textos literários na explicação de fenómenos geográficos, acentua-se pela capacidade de contemplação e enriquecimento da realidade buscada pelo geógrafo, uma vez que ela faz uso de recursos comuns como o ritmo, aliterações, personificações, metáforas e que nos aproxima muito mais das fotografias então retratadas. É como se o leitor sentisse que o que está ser dito fizesse parte dele, existe uma aproximação do espaço descrito pelo escritor e os nossos espaços interiores. Quantos de nós ao ler uma obra literária não sentiu esta experiência? No seguimento daquilo que está a ser dito, entende-se que: “O aspecto mais rico de uma obra literária para o estudo geográfico é o aspecto fenomenológico-existencialista do autor, que produz mundos e produz lugares, produz espaços e produz tempo. A maior riqueza não é a descrição, é a criação/revelação da relação homem-meio e os sentimentos e afectividades que se desenvolvem” (MATOS:1988).
Através de uma poética, como no caso particular de Guimarães Rosa e do conto Sanga Puytã, o autor conseguiu entender os limites do território e os diferentes contextos regionais através da linguagem diferenciada tão característica dos lugares que os separa. Estes diferentes contextos regionais estão normalmente muito presentes na literatura de fronteiras, estas assumem características diferentes entre si e análogas às fronteiras (objecto geográfico), que representam, esta qualificação é normalmente fornecida por personagens do texto que caracterizam as populações que habitam as mesmas.
Os aspectos culturais, festivos, amorosos e religiosos também são factores que destinguem os espaços e que salientam as diferenças regionais então tratadas, catadura muito tratada por escritores. Além destas condicionantes culturais e sociais, não podemos deixar de relevar os aspectos naturais( relevo, fauna, clima), que um texto literário acresce de informação ou ainda questões como o risco ambiental, a montanha, o espaço urbano, através das fontes escritas (BOIRA e RESQUES,1996:282).
A criação de mapas, de tratamento geográfico, não como metáforas, mas como ferramentas analíticas, trazem muitas vezes consigo à luz, relações que de outro modo ficariam ocultas(MORRETI, 2003: 3), averiguações tão úteis para a geografia. Os discursos e as cartas são duas formas essenciais da geografia, na verdade é quase impossível comunicar de forma tão explícita através da escrita aquilo que uma carta pode conter, por isso o uso destas como forma de clarificar aquilo que a literatura tantas vezes integra, adivinha-se como algo de grandes potencialidades.
Por conseguinte, não podemos deixar de focar que a Literatura em momento algum pretendeu ser objectiva ou globalizante no tratamento de qualquer problema. Aliás sobre isto, é importante referir que quanto ao conhecimento de elementos geográficos através destes textos literários, não se pretende de todo uma substituição da análise científica pela criação artística, mas apenas retirar dela novos aspectos de interpretação (CHOUPINA, 2005:25).
Estas fontes literárias de carácter não científico, ampliam a sua importância, uma vez que servem também para conhecer o conhecimento geográfico difundido entre aqueles que não possuem formação nesta área (BOIRA e RESQUES, 1996: 282), mas que de alguma forma a tentam retractar através dos seus escritos.
Os textos literários, romances históricos por exemplo, podem desfrutar de inúmeras informações sobre os espaços no passado, onde existe um grande conjunto de estudos publicados. A literatura entre muitas possibilidades que possui tem em si a facilidade de reconstruir as paisagens do passado não menos importantes para o conhecimento geográfico, atendendo à evolução das mesmas e à importância do tempo que já foi para o tempo que é. CHOUPINA (2005:16), refere que a Literatura muitas vezes pode ser a principal fonte ou mesmo a única que o geógrafo possui. Quando uma observação ou uma investigação oral do mundo já não é possível, ou tal como ainda o autor refere, o inquérito no local ou as informações escassas ou nada fiáveis não podem ser sujeitas a uma utilização, o texto literário funciona como um testemunho, onde assume o valor de documento. Desta maneira quando em contacto com textos literários que fazem verdadeiras reconstruções de uma paisagem regional, urbana, agrícola que já desapareceu à muito tempo estamos a entrar naquilo que se designa pela Geografia Histórica. A literatura adapta assim o valor de um documento histórico onde se pode conhecer o espaço do passado (BOIRA e RESQUES 1996: 280). Muita da investigação feita com base em obras literárias tem sido no domínio da Geografia Histórica, destaca-se o trabalho de JÚLIA GALEGO E SUZANNE DAVEAU(1986), JOÃO GARCIA(1986) e (CRAVIDÃO, 1992).
Neste plano de actuação entendemos que a literatura constitui uma área de investigação de grande qualidade, uma visão reveladora de um lugar, de um espaço. Um romance situa muitas vezes um grupo, um herói, família, categoria social no seu meio regional(FRÉMONT, 1980: 97,98), que esboçam um ou outro arranjo de caminhos interpretativos em relação a um texto, a uma ideia crítica ou mesmo um poema.
Entende-se assim que as criações ficcionais podem servir como fonte para a descrição e compreensão geográfica.

Bibliografia:
BOIRA Marques, J., RESQUES, Velasco, P.(1996) “ Las fuentes Literarias documentales en geografia” in Morteno Jiménez e Marron Gaite (ed), Ensenãr Geografia. De la Teoria a La prática, editorial Sintesis, Madrid
CHOUPINA, A. (2005): O Lugar do meio: uma leitura geográfica da obra de Miguel Torga, Instituto de Estudos Geográficos, Coimbra
FRÉMONT, A(1980): A região, espaço vivido, Livraria Almedina, Coimbra
GIRÃO, A (1952): Geografia e Literatura”, Boletim do Centro de Estudos Geográficos, nº4 e 5
MATOS, CAMPOS, A.(1988): Dicionário de Eça de Queirós, Lisboa
MORRETI, FRANCO(2003): Atlas do romance Europeu 1800- 1900, Boitempo, São Paulo
Sites consultados:

Imagem: Encontrada na web.
Bárbara

4.11.06

Segredos ao ouvido

Bárbara

Indefinição positiva



Fotografia: Alexander Rodchenko, Girl with "Leica", 1934

Um cerco onde os sonhos pegam ao colo febres imprecisas que a companhia de um vinho contraria e descompromete aquilo que às vezes parece demasiado..

Bárbara

27.10.06

Shirin Neshat


Uma mulher.A concretização da arte, a luta pelos direitos de quem a faz. A intervenção e a causa. As culturas divergem, contudo as angustias,os desafios, os medos e as esperanças convergem. No esclarecimento, na cultura e na intelectualidade que possuí esta mulher politicamente activa, ergue voz para aquilo que penso ser imperioso fazer.
A metáfora dos rituais culturais como as pinturas de henna, a arma como forma de repressão e poder em prol de sociedades cada vez mais injustas. As mensagens e poemas na construção daquilo que é preciso alterar!

Para ela.
Bárbara

Mito do eterno retorno



Existem temporadas da nossa existência que vivemos com tanta intensidade que recorremos frequentemente a elas. Mesmo quando já foram à muito, muito tempo...

Bárbara

Esconderijo III

... acudidos pela vontade de penetrarem nos segredos um do outro tentaram prolongar até ao infinito o encontro. Ignoraram as obrigações a que estavam habituados e não deram conta do movimento que os rodeava, falavam a meia voz, atemorizados pela surpresa de alguma coisa que os fizesse enfraquecer.
(...)
Não conseguia tirar os olhos dos seus lábios perfeitos e sempre molhados, dos seus olhos juvenis, dos seus ombros descobertos acariciados pelos cabelos movimentados. Sentia-se quase a desmaiar de sedução.
(...)
Numa calma que não lhe é comum, levou-o para casa e distraidamente entraram na vida um do outro. Perseguiram-se pela casa e inventaram fantasias cheias de voluptuosidade. Ele fazia-a rir. Percorreram-se ternamente e caíram abraçados…estavam muitos juntos.
Embrulhados na nudez despertaram tarde na manhã seguinte, mas sem a liberdade que tinham inventado.
(...)
-Se quiseres fico à tua espera.
-Não é preciso, eu fico.
Bárbara

24.10.06

LATITUDE 60!

No contexto das alterações climáticas e ambientais assim como no que concerne à problemática do aquecimento global as regiões polares são de extrema importância no que confere às trocas de calor ao nível dos oceanos e da atmosfera que regulam o clima do nosso planeta.
Conscientes da relevante pertinência que possuem estas questões muitas são as organizações governamentais e não governamentais que apoiam o Ano Polar Internacional (API).
Em 2004 um grupo de investigadores das mais diveras àreas científicas juntou-se para promover uma série de inicitaivas para o API que decorre em 2007-08.
Dentro dos seus amplos objectivos e acções salienta-se uma delas pela ideia que possuí em si de divulgação, esclarecimento e consciência que penso ser muito importante: LATITUDE 60! Este projecto é dirigido a todos os professores de todos os níveis de ensino (pré-escolar, básico, secundário e superior) e pretende sobretudo uma nova tomada de consciência em relação a estas regiões dentro de uma base científica.
A organização é feita pela Associação de Professores de Geografia. o Centro de Ciências do Mar, Universidade do Algarve, Centro de Estudos Geográficos, Universidade de Lisboa.
O blog acima referido funciona como uma espécie de Literatura de Viagens que conta as experiências que o geográfo e autor do mesmo vai tendo. Passem por lá se puderem, está mesmo interessante.
Bárbara

20.10.06

Avarias da Alma


Passeio pelos recantos que me acompanharam durante muito tempo e entrego-me às saudades que me avariam a alma. Não me conserto porque gosto delas.
Empresto-me às gargalhadas dos bons momentos e entrego-me sem hesitações à alegria que estas recordações me trazem.
Arrepio-me e gosto, não descanso e não me direcciono porque assim conservo a inconstância daquele que é, o meu mais louco espaço-vivido.

Bárbara


Foto: Bárbara, República dos Inkas, 2006
As festas estão na alma não na presença física. ;)
Post publicado pela primeira vez em Outubro de 2006.

10.10.06

Wong Kar-Wai

Combino muitas vezes encontros com Wong Kar-Wai de forma quase insistente. Não consigo libertar-me dos seus jogos mentais, dos seus heróis e da feminilidade da sua câmara. A visualização é exigente e erótica acompanhada por bandas sonoras surpreendentes e inesquecíveis que nos levam para um tempo e um espaço que nunca queremos abandonar.
Olha-se assim para este tributo com a saudade de mais um encontro.





Bárbara

8.10.06

Os Domingos são assim




Penso na despedida como um encontro simples e claro.

Bárbara

Coisas minhas
















Still in Love

Today I passed you on the street
And my heart fell at your feet
I can't help it if
I'm still in love with you
Someone else stood by your side
She looked so satisfied
I can't help it
I'm still in love with you
A picture from the past came slowly stealin
As I brushed your arm and walked so close to you
Then suddenly I got that old-time feelin'
I can't help it
I am still in love with you
It hurts to know another's lips will kiss you
And hold you just the way
I used to doOh heaven only knows how much
I miss youI can't help it
I'm still in love with you

Cat Power

5.10.06

O sono que não vem

Deixo-me conquistar pelo sono que não vem em improvisos que são o cenário dos caprichos que não me deixam adormecer. Os meus desatinos dão trambolhões sobre a madrugada desajeitada que se faz longa.
Colecciono as pinturas que trafiquei com os meus sonhos no acanhamento habitual que me irrita. Nunca tive jeito para pintar!
No ar soltam-se palavras bonitas que caiem nos meus ombros e que se espalham desordenadamente na margem dos meus desabafos...oiço-os silenciosamente e espreguiço-me sobre o tempo perdido à espera do amanhã.
Bárbara

1.10.06

Con Toda Palabra


Con toda palabra
Con toda sonrisa
Con toda mirada
Con toda caricia


Me acerco al agua
Bebiendo tu beso
La luz de tu cara
La luz de tu cuerpo

Es ruego el quererte
Es canto de mudo
Mirada de ciego
Secreto desnudo

Me entrego a tus brazos
Con miedo y con calma
Y un ruego en la boca
Y un ruego en el alma

Con toda palabra
Con toda sonrisa
Con toda mirada
Con toda caricia

Me acerco al fuego
Que todo lo quema
La luz de tu cara
La luz de tu cuerpo

Es ruego el quererte
Es canto de mudo
Mirada de ciego
Secreto desnudo

Me entrego a tus brazos
Con miedo y con calma
Y un ruego en la boca
Y un ruego en el alma

Lhasa de Sela, The living Road(2004)

La Dolce Vita




Olho as sombras que emolduram apetecíveis e sinuosos riscos...
Atrevo-me a fechar à chave numa precisão sentimental que nunca tenho, aquilo que mais me apetece. Arrumo-me em quedas com sabor a terra, renovo-me em barulhos que faço por tudo e por nada, conto-me em esperas estanques que me pedem para te escrever uma carta.
Acelerada a angústia distingo-me em mosaicos simples que fazem a fotografia daquilo que sinto através de compassos que construí para mim mesma. Ajoelho-me frequentemente sobre eles como se de um ritual interpretativo se tratasse para me conhecer, não me deixo ir porque o reconhecimento de mim torna-se difícil e ancoro-me numa cobardia constrangedora.
Sigo os meus dias naquela correria que me adormece despertada por incertezas de que gosto e contra uma melancolia que me afasta dos depósitos do meu jeito. Discuto o assunto comigo e rodopio já tonta em contrariedades que me fazem feliz. Liberto anseios exóticos que agora se deslocam do meu corpo e esgoto os mistérios que se estranham em mim.


Como te chamas??? Posso-te roubar emoções??? Juro que depois as te devolverei num afago de La Dolce Vita.
Se me deixares, volto a escrever-te...

Bárbara

30.9.06

Incursão ao interior




Tumultuosa a distância que vai delineando as nossas desculpas. Esgotam-se as sínteses e as procuras de uma leveza para as constantes despedidas. Apertam-se mãos, coram-se corações, encenam-se sorrisos, beijam-se promessas que estão difíceis de serem cumpridas, desnorteiam-se desejos precipitados, velam-se sonos como a única realidade.
Oiço as tuas palavras sem a certeza daquilo que me querem dizer, concentro-me nos sinais e esses dizem-me para não desistir porque isso é batota. Não vou e procuro-te abranger.
Confesso-me de forma embaraçada em resolutas contradições que me pedem para te amar, abraço o teu cheiro e desamparo e alcanço a tua fragilidade que se aproveita de mim. Desconcerto-me com a música que ouvimos e decifro os teus códigos, mas nunca entendo os meus.

Bárbara

29.9.06

Patti Smith



Patti Smith cover of Nina Simone's song:"Don´t smoke in bed".

28.9.06

Vicente Amigo




Teatro Municipal de Faro, 27 de Outubro
Centro Cultural de Belém, 28 de Outubro
Centro Cultural Vila Flor Guimarães, 29 de Outubro (eu vou:)!

Reencontros sonoros de momentos já mais esquecidos.

23.9.06

Guerrilla Girls


Poster:Guerrilla Girls, Don't Stereotype Me!, 2003

Esconderijo II


Pintura: Salvador Dalí,Muchacha en La Ventana,1925

Desce a rua que fez as crónicas da sua infância em direcção ao mar.
Sentada na areia, apetece-lhe fazer coisas, não tem sucesso. Tenta salvar a sua tarde abrindo "Orlando", mas logo de seguida comprime Virginia Wolff aborrecida. Inquieta-se pensando que daqui a nada já não estará sozinha.
-Quero só a companhia do mar e da minha bicicleta.
Esconde-se de entendimentos que a levam onde não quer ir. Não quer ajustar contas consigo, não tem forças para isso.
Adormece envolta de um sono sensível que o mar lhe oferece e sonha com os segredos do vento que lhe avisam que se faz tarde....

Bárbara

22.9.06

Elif Shafak

E pensar que a romancista poderia ter sido condenada a três anos de prisão por ofensa à identidade turca (artigo 301 do código penal turco) devido ao seu último livro. Parece que a vontade de uma democratização com este tipo de julgamentos está longe de ser conseguida. O que dizer disto...não se entende como é que a história de um país pode ainda incomodar tantos e como a liberdade de outros é posta em causa por isso.

9.9.06

AUSÊNCIA


Pintura:Gauguin,Otahi(Sozinha),1893

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desperados
Para que eu possa levar um gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.

Eu deixarei...tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serena.

Vinicius de Moraes (Pela companhia quer nas leituras mais solitárias dos seus poemas quer com as suas canções mais quentes no colo de alguém...)

A IMIGRAÇÃO PORTUGUESA em questão


A Fundação Calouste Gulbenkian comemora o seu cinquentenário aniversário e para grande e boa surpresa com um dos temas da actualidade que merecem mais discussão.
Depois de ter lido o programa completo, fiquei muito entusiasmada, não só pelo número de debates ligados à Imigração Portuguesa que vão ser realizados, mas também pela tão diversa agenda cultural que nos apresenta(cinema, exposições, concertos e teatro). A programação começou este ano e só acabará em Abril do próximo ano.
Eu vou sempre que conseguir e espero ver alguns de vocês lá.

“As árvores têm de se resignar, precisam das suas raízes, os homens não. Respiramos a luz, cobiçamos o céu e quando nos metemos na terra é para apodrecer. A seiva do solo natural não nos sobe pelos pés em direcção à cabeça, os pés só nos servem para andar. Para nós só as estradas contam. São elas que nos guiam - da pobreza à riqueza ou a outras pobrezas, da servidão à liberdade ou à morte violenta. Elas fazem-nos promessas, levam-nos, empurram-nos e depois abandonam-nos. E então morremos, tal como nascemos, à beira de uma estrada que não escolhemos.”
Origens de Amin Maalouf

7.9.06

Angel-A


Realização: Luc Besson,2005

Uma linda fábula romântica...

Esconderijo I


Fotografia: Steve Landis,Shoes, Jardin du Luxembourg, Paris 1986



Falaram de amor a noite toda e mesmo assim ficou com medo que o seu esconderijo fosse descoberto. Já não saberia para onde escapar. Nunca mais poderia brincar às escondidas. Na inquietude que se sente quando estamos prestes a ser achados, visitou o seu recanto mais uma vez.
- Não abras essa porta! Empenha-se na convicção, mas esquece-se de proteger o olhar.
Conhecido o seu segredo, deitou-se imóvel à espera que ele a voltasse a abraçar.

Bárbara

3.9.06

Caixa de música



Pintura:Karin Monberg.Bailarinas.2005

Eu sou a bailarina de uma caixa de música muito antiga. Tão antiga que fiquei esquecida na montra de uma loja que nunca mais abriu.
Aquilo que me suporta é uma base feita de espelho, onde encontro todos os dias reflexos de mim própria que o pó se vai encarregando de apagar. A minha imagem, essa contemplo-a afectuosamente. Sou colorida, mas já fui mais! Ainda consigo me lembrar, das minhas sabrinas brilhantes, quando entre gargalhadas abertas alguém cuidava de mim. Sim... eu só uso sabrinas, e até já dancei muito com elas quando a música vinda da minha caixa cheirava a especiarias.
O meu relógio parou! E agora passo os dias a contar histórias para mim mesma. Daquelas que fingem a realidade. Eu e o meu silêncio cúmplice já não ficamos embaraçados, agora temos estas histórias. Nem vivemos sozinhos, nem acompanhados...

Bárbara

Strings


REALIZAÇÃO:Anders Rønnow Klarlund.
NACIONALIDADE: Dinamarca, Suécia, Noruega,Reino Unido, 2004.


O filme não é novo, mas é absolutamente original.
As marionetas e os seus fios funcionam como verdadeiras metáforas às nossas vidas.Os fios unem-se, rompem-se, cruzam-se...para quem ainda não viu fica a sugestão.

2.9.06

O Corpo das Mulheres


Barbara Kruger, Untitled (Your body is a battleground), 1989

"O Corpo da Mulher tem muitas funções. Já foi usado como batente de porta, saca-rolhas, como relógio com barriga a fazer tiquetaque, como uma coisa que serve para pendurar o abatjour, como quebra-nozes, basta apertar com força as pernas de metal e eis que salta cá para fora a sua noz. Segura em tochas, ergue vitoriosas coroas de louros, crescem-lhe asas de cobre e levanta aos céus anéis de estrelas de néon; construções inteiras repousam sobre a sua cabeça de mármore.
Vende carros, cerveja, loção de barbear, cigarros, bebidas alcoólicas; vende dietas e diamantes e desejo em garrafinhas minúsculas de cristal(...).
Não se limita a vender, è vendido. O dinheiro escorre para este e aquele país, voa para cá, quase que se arrasta, carrada após carrada, seduzido por aquelas pernas sem pelos, pré-adolescentes. Ouve lá, queres ou não diminuir a dívida externa? Não és patriota? Assim é que é.
Linda menina.
Ela é uma dádiva da natureza, reciclável, felizmente, porque são umas coisas que se deterioram tão rapidamente. Já não as fazem como dantes. Material de segunda."

Margaret Atwood,O corpo das mulheres,trad.Maria Helena Dias Loureiro

1.9.06

No esquecimento....

Fico confusa com facilidade perante aquilo que quero ou não partilhar, ficando somente a certeza de o querer fazer...No esquecimento ficam muitas vezes aquelas que deveriam ser as memórias: misturas cheias de musicalidade, cores berrantes, velocidades alucinantes, sabores doces e picantes, encruzilhadas apaixonantes... de alguma coisa esquecida!